segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Parábola: Conceito

Sérgio Biagi Gregório

Parábola - do gr. parabole significa narrativa curta, não raro identificada com o apólogo e a fábula, em razão da moral, explícita ou implícita, que encerra e da sua estrutura diamétrica. Distingue-se das outras duas formas literárias pelo fato de ser protagonizada por seres humanos. Vizinha da alegoria, a parábola comunica uma lição ética por vias indiretas ou simbólicas: numa prosa altamente metafórica e hermética, veicula um saber apenas acessível aos iniciados. (Moisés, 1979)

Sinteticamente: é uma narração alegórica na qual o conjunto dos elementos evoca, por comparação, outras realidades de ordem superior.

IMAGEM E DOUTRINA

A imagem e a doutrina são dois elementos materiais da parábola a que o termo de comparação dá a forma específica.

A imagem inspira-se nas tarefas cotidianas, nas ocupações mais humilde que valoriza, e nos costumes dos homens, que aponta como exemplos bons ou maus. Por vezes paradoxal como no caso dos operários da vinha, iguais no prêmio e desiguais no trabalho. Mas sempre dinâmica: a semente nasce, a rede lança-se ao mar, o rico banqueteia-se, a dracma procura-se, o inimigo vinga-se, as crianças brincam, os imprudentes dormem etc.

A doutrina, cujo tema é quase sempre o reino de Deus, enfatiza as contrariedades, o progresso, as atividades do rei, os direitos e deveres dos súditos em retalhos de poesia e doutrina, ligados entre si pela ponte que é o termo de comparação umas vezes rico de pormenores, como na Parábola do Semeador e do Trigo e do Joio, outras reduzidas a uma sentença ou rubrica a jeito de introdução ou de cláusula. (Enciclopédia luso Brasileira de Cultura)

PORQUE JESUS FALAVA POR PARÁBOLAS

Seus discípulos, se aproximando, disseram-lhe: por que lhes falais por parábolas? E, lhes respondendo, disse: porque, para vós outros, vos foi dado conhecer os mistérios do reino dos céus; mas, para eles, não foi dado. Eu lhes falo por parábolas, porque vendo não vêem, e escutando não ouvem nem compreendem. E a profecia de Isaías se cumprirá neles quando disse: vós escutareis com vossos ouvidos e não ouvireis; olhareis com vossos olhos e não vereis. Porque o coração deste povo está entorpecido e seus ouvidos tornaram-se surdos, e eles fecharam seus olhos de medo que seus olhos não vejam, que seus ouvidos não ouçam, que seu coração não compreenda, e que, estando convertidos, eu não os curasse.” (São Mateus, cap. XIII, v. de 10 a 15) (Kardec, 1984, p.283)

CONHECIMENTO IMPLÍCITO DAS PARÁBOLAS

As parábolas revestem-se de conhecimento exotérico e de conhecimento esotérico. O conhecimento exotérico refere-se à exposição que Jesus fazia publicamente, enquanto o conhecimento esotérico, refere-se às explicações que Jesus dava aos apóstolos, em particular. Observe que, mesmo entres esses, não disse tudo.

O ENSINO POR MEIO DE PARÁBOLAS

Foi para evitar as ciladas dos adversários e prevenir as interpretações errôneas do auditório que Jesus recorreu ao ensino por meio da Parábola, que se destinava a despertar a curiosidade dos ouvintes e o desejo de ulterior explicação que os discípulos e os bem intencionados pediam.

PARÁBOLA NA ATUALIDADE

Parábola assemelha-se a uma noz que se deve quebrar o casco para ver o que tem dentro. Isto quer dizer que há sempre uma nova abordagem a cada vez que olhamos a mesma parábola. Seria ampliar o conhecimento, ver com outros olhos a mesma realidade.

Vejamos, a título de exemplo, Parábola dos Talentos.

A Parábola dos Talentos (Mateus, cap. 25, vv. 14 a 30) retrata a situação de um homem que, ao ausentar-se para longe, chamou seus servos, e entregou-lhes os seus bens. Ao primeiro deu cinco talentos, ao segundo, dois e ao terceiro, um. Os dois primeiros negociaram os talentos recebidos e devolveram, respectivamente, dez e quatro talentos. O terceiro devolveu apenas o que havia recebido. Os que multiplicaram seus talentos ganharam novas intendências. Mas o que o guardou, até este o amo lhe tirou, dizendo: "Porque a todo o que já tem, dar-se-lhe-á, e terá em abundância; e ao que não tem, tirar-se-lhe-á até o que parece que tem".

Metaforicamente considerada, essa parábola refere-se à responsabilidade na multiplicação dos bens recebidos. Se o Criador houve por bem ofertar-nos a luz do Conhecimento Espírita, não podemos ocultá-lo com receio de represálias e dissabores. Espargindo a luz da verdade vamos iluminar os detentores do Poder, do Dinheiro, da Inteligência etc. Com isso, ajudaremos a construir um mundo mais justo e mais fraterno.

APÊNDICE: OUTRAS FIGURAS DE LINGUAGEM

ALEGORIA (do gr. allegorie, outro discurso) consiste num discurso que faz entender outro, numa linguagem que oculta outra. Pode-se considerar alegoria toda concretização por meio de imagens, figuras e pessoas, de idéias, qualidades ou entidades abstratas. Ex. Divina Comédia, o Mito da Caverna.

FÁBULA é uma narrativa curta não raro identificada com o apólogo e a parábola. Protagonizada por animais irracionais, cujo comportamento, preservando as características próprias, deixa transparecer uma alusão, via de regra satírica ou pedagógica, aos seres humanos.

APÓLOGO é uma narrativa curta não rara identificada com a fábula e a parábola. Contudo, há quem as distinga pelas personagens: o apólogo seria protagonizado por objetos inanimados (plantas, pedras, rios, relógios etc.), ao passo que a fábula conteria de preferência animais irracionais, e a parábola, seres humanos.

METÁFORA é a mudança do sentido comum de uma palavra por um outro sentido possível que, a partir de uma comparação subentendida, tal palavra possa sugerir. Exemplo: qualificar de dilúvio a eloqüência de um orador.

BIBLIOGRAFIA

Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura. Lisboa, Verbo, s. d. p., Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira. Lisboa/Rio de Janeiro, Editorial Enciclopédia, s.d. p., LEON-DUFOUR, X. e OUTROS. Vocabulário de Teologia Bíblica. Rio de Janeiro, Vozes, 1972., MOISÉS, M. Dicionário de Termos Literários. 5.ed., São Paulo, Cultrix, 1979.

COMPLEMENTO: QUESTIONÁRIO:

1) O que é uma parábola?

2) Como distinguir o “corpo” da “alma” da parábola? 

3) Que tipo de conhecimento as parábolas revelam?

4) Parábola e parábola evangélica são a mesma coisa?

5) O que são parábolas evangélicas?

7) Por que Jesus falava por parábolas?

 

Apólogo: Conceito

Carlos Ceia

Gênero alegórico que consiste numa narrativa que ilustra uma lição de sabedoria, utilizando personagens de índole diversa, reais ou fantásticas, animadas ou inanimadas. Servem de exemplos clássicos os apólogos de Fedro e Esopo. Confunde-se facilmente com a fábula, embora esta se concentre mais em relações que envolvem coisas e animais, e com a parábola, que se ocupa mais de histórias entre homens e figuras alegóricas com sentido religioso. (Há um apólogo na Bíblia, chamado de Apólogo de Jotão. Encontra-se em Juízes 9.7-21).

No século XVII, em Espanha, fizeram escola os apólogos de Los Sueños, de Quevedo, e Coloquio de los perros, de Cervantes. Ficaram célebres entre nós, os Apólogos Dialogais (1712), de D. Francisco Manuel de Melo. Como todos os apólogos, têm por fim interferir de alguma forma com o comportamento social e moral dos homens, modificando-o pelo exemplo, se possível. No século XIX, registam-se os Apólogos (1820), de João Vicente Pimentel Maldonado, poeta menor do arcadismo, inspirado nas fábulas de La Fontaine, e “Um Apólogo”, de Machado de Assis (incluído na colectânea Várias Histórias, 1896). Os Contos Tradicionais Portugueses, compilados por Teófilo Braga, são, na maior parte, verdadeiros apólogos.

BIBLIOGRAFIA

Maria Judite F. de Miranda, “Os apólogos dialogais primeiro e segundo de D. Francisco Manuel de Melo”, Revista da Universidade de Coimbra, 20 (1962); Maria de Lourdes Cortez: “Relendo D.Francisco”, Jornal de Letras (3-12-1985).

EM RESUMO:

O apólogo é uma narrativa que busca ilustrar lições de sabedoria ou ética, através do uso de personalidades de índole diversa, imaginárias ou reais, que podem ser tanto inanimadas como animadas.

Bem parecido com a fábula em sua estrutura, o apólogo é um tipo de narrativa que personifica os seres inanimados, transformando-os em personagens da história.

Diversos autores consideram que pode-se considerar o apólogo como uma parábola que não utiliza apenas, e a título de analogia, um caso particular a fim de tornar perceptível uma significação geral.

Fábula: Conceito

Fábula vem do lat. Fari (falar) e do gr. Phaó (dizer, contar algo) é uma narração breve, de natureza simbólica, cujos personagens por via de regra são animais que pensam, agem e sentem como os seres humanos. Esta narrativa tem por objetivo transmitir uma lição de moral.

A FÁBULA SEGUNDO OS FABULISTAS:

Theon (século I d.C.) – “Fábula é um discurso mentiroso que retrata uma verdade.

Fedro (século I d.C.) – “A fábula tem dupla finalidade entreter e aconselhar.

La Fontaine (século XVII) – “A fábula é uma pequena narrativa que, sob o véu da ficção, guarda uma moralidade.”

O nascimento da fábula coincide com o aparecimento da linguagem. Antes de ser considerada um gênero passou dispersa na boca do povo. A fábula nasceu simultaneamente na África, na Europa e no Oriente.

As fábulas orientais foram passando da Índia para a China, ao Tibet e à Pérsia, terminando na Grécia com Esopo que soube adaptar as histórias orientais à sabedoria grega.

As fábulas de Esopo obedecem ao mesmo padrão, com intenção e espírito parenético: veiculam uma norma de conduta sob a analogia clara de atos de animais, homens, deuses ou coisas inanimadas.

A motivação é de origem popular e o espírito geral é realista e irônico. São curtas, bem humoradas e suas mensagens e ensinamentos estão relacionadas com os fatos do cotidiano.

Os provérbios, assim como as fábulas, sobretudo as que retratam os animais, faz-nos refletir seriamente sobre o comportamento humano e nos levam a um posicionamento crítico sobre suas condutas...